Eram duas amigas

Se conheceram porque os namorados eram amigos. Viajavam juntas, dividiram risadas, cervejas  e lágrimas. Os dois falavam o tempo todo o grande plano da vida deles: comprar um veleiro e viajar o mundo.

Esse plano não incluía as namoradas, que ouviam diariamente os planos empolgantes e dead lines.

Os namoros acabaram. Elas casaram com outros homens, os casamentos acabaram. Os dois amigos nunca compraram o veleiro, nem viajaram o mundo. Um deles caiu de skate e rachou o crânio ; nunca mais foi o mesmo,  casou e mora em um praia vivendo uma vida simples. O outro teve 2 filhos com mulheres diferentes e ainda fala na viagem do veleiro e que quer soltar as ” amarras”.

As amigas? Continuam amigas,  viajaram o mundo e  já viveram em outros continentes. Elas pegaram aquele veleiro…

Casamento e poder

Comigo é assim: acordo e um tema me persegue. Acontece quase por acidente; uma conversa de alguem sentado ao meu lado na padaria, o cara que entrega a água menciona o tema, a velhinha na fila do banco conta a sua história…

É desse jeito que acontece. Alguns dizem que é sintonia, você atrai o tema porque vc está conectado a ele, pensando nele e assim o atrai.

Mas essa semana foi muito evidente isso, o assunto me perseguia. O tema que eu refletia, era na situação de dominação e poder que alguns casamentos acabam se tornando. Vou tentar deixar mais claro; quando o marido trabalha e a mulher não, por exemplo. A maioria dos casais que eu vejo nessa situação, o marido é folgado pra caramba com a mulher. Dá umas respostas atravessadas muito fácil, faz uma piadinha relacionada ao fato dela não trabalhar tipo: ” Você não faz nada o dia inteiro, não sabe como é…”

Uma amiga querida está nessa armadilha. Parou de trabalhar, teve um filho, e escuta merda pra cacete e tem que baixar a cabeça – ele a sustenta. Vendo as  fotos cor de rosa dela no facebook nunca vai imaginar a merda de vida que ela leva. Com outras amigas na mesma situação, vejo o mesmo comportamento: o marido é folgado pra caralho.

Eu passei por isso, esse assédio moral no meu primeiro casamento. Mesmo trabalhando ouvia a mesma frase sempre em uma briga :”  Se vc se separar de mim vai correr pra onde? – (detalhe que eu trabalhava  no mesmo lugar que ele ,e quando nos separamos ele não sossegou até deixar a minha permanecia lá totalmente insustentavel). – Correr pra onde… tem frase mais humihante?

Corrí, pra longe, bem longe dele.

No meu segundo casamento, eu acho que o fato de eu morar na casa da familia dele e com 6 cachorros tornou ele mais espaçoso, mais folgadinho – ( será que ele tambem pensou ” pra onde ela vai correr?”).

Hoje eu me fodo, trabalho muito, mas não tem ninguém pra me humilhar. Tinha que ser assim?

A culpa boa ou feliz separação

Sofrí. Na primeira semana sentia falta dele. O coração apertado, falta de ar , vazio planetário.

Não conseguia definir bem o que me fazia sentir falta dele. Nos últimos meses me irritava com pequenas e grandes coisas que ele nem imaginava. Um menino homem infantilizado, irresponsável. Eu nao aguentava mais aquele peso sob meus ombros; a vida já é tão filha da puta e exige tanto da gente, que um anexo que não encara ela de frente pesa toneladas.

O medo de ficar sozinha me fez continuar por quase 4 anos; medo de não conseguir achar outra pessoa que me amasse.

Os dias foram passando e eu conversando todos os dias com ele, o vendo de vez em quando. O  vazio , a saudade virou realidade, os problemas as conversas mal resolvidas vieram com ele ; a irresponsabilidade crônica tambem. Ele começou a pesar de novo, e fez eu ter absoluta certeza de que tomei a decisão certa.

E a vida tá leve, tá feliz.

Bastardos inglórios

Uma amiga estava na pior, porque não entendia ter sido trocada por uma mulher simplória. Ela é linda, inteligente, viajada, interessante e culta sem ser pedante.

Como me trocar por aquela sem sal que não abre a boca? Que não tem estilo nenhum?

A mulher simplória, bem, ela é simplória. Não buscou muito da vida e parece estar bem com o que ela tem.

A minha amiga não se conformava, tantos atributos não serviram para segurar o homem amado. Como pode? Come mai?

Eu repondí, dando um gole suave na minha Stellinha: – Querida, alguns nascem gostando da Cidra Cereser; o cara pode até experimentar uma Veuve Cliquot, mas o que ele gosta mesmo é da Cidra Cereser. É assim a vida.

Falta de fé

Resoluções de final de ano são deliciosas! Vou emagrecer, guardar mais dinheiro, fazer trabalho voluntário, para de beber ou comer carne vermelha, encontrar um amor…
Mais um final de ano se aproxima. Todo mundo pesando os saldos de 2011 e planejando o que vão fazer de diferente/ surpreendente nesse 2012.

Na minha yôga tem uma moça magra, de cabelos longos lisos e com umas luzes loironas. Super sexy, ela chega sempre com stilletos pretos e caminha até a porta da nossa salinha e os descalça com muita expertise. As pernas dela , do tipo que não se encostam, pernas que nunca tive e só terei se desentortá-las…
No final da aula , tendo uma conversa com um colega sobre budismo , ano novo e renovação, ela entra no assunto e revoltada começa: – ano novo vida nova? Besteira. Quer mudar? Muda agora! Pra que esperar o ano novo para efetuar mudanças?

Por mais racional que ela tenha sido, as resoluções de ano novo são uma delicia! Não tenta gongar o meu prazer do ano novo falsa yôgue da perna fina!

O que é felicidade?

Felicidade: só realizamos que éramos felizes quando a perdemos – tipo, eu era feliz e não sabia…

Eu não ando me sentindo muito feliz. Cansada, gorda, desanimada, não tenho vontade de sair da cama. Talvez seja o tempo que fechou, a garoa que não para.  Compenso em queijos, vinhos,  pão de mel, sardela e muito pão italiano.

Queria ter dinheiro para viajar e viajar e não ter que ficar monitorando gente chata. To ficando velha pra essa merda.

11 de setembro

Viajo muito. Tenho pessoas queridas em alguns lugares no mundo; Nessa última viagem, estava em NYC voltando do Queens de carro com a minha amiga Julie e seu namorado Jimmy.

Enquanto cantávamos alto uma música que tocava no rádio que nem crianças grandes,  pensei no quanto sou privilegiada em conhecer essas pessoas de coração bondoso e que me recebem como família em  um país que não é o meu; em que não temos a mesma língua mãe, e temos algumas diferenças culturais. Pensei também , como um deja vu, que vivenciei um momento parecido alguns meses atrás na Italia, indo de carro para Viareggio com a Ilenia e o Francesco, rindo alto e falando bobagem;  dois italianos de alma bondosa, dois namorados também – achei a cena parecida, acontecendo em continentes diferentes – me encheu o coração.

Esse sentimento de ” encher o coração ” já aconteceu no México, no Japão, Bolívia, Malásia e me levam a dizer, escrever que gente é gente não importa a língua, aparência. Somos todos iguais e esse sentimento, quando chega de encontro, enche o coração , a alma com a mesma vibração quando entoô os mantras na Yôga. É a constatação que somos pequenos no Universo, mas que também somos grandes na alma e no coração. E faz nos compadecermos mais do horror que aconteceu a 10 anos atrás. Um ato de tamanha ignorância na espiritualidade e falta de bondade e a incapacidade de ver que todos somos iguais. Inclusive iguais aquelas pessoas que jogaram um avião para matar gente.
  

momento

Cosa vogli? Nada, nada me vogli oggi.
Na verdade, voglio sim. Andar naquela vespinha azul com vc sentindo o vento no rosto e o cheiro imaginário dos papávolos que ficam na beira de estrada enquanto seguro na sua cintura
– Sai come le autisti qui sono pazzini- va `a modo.
-Si, lo so
Enquanto o sol da Toscana aquece meu rosto e me dimentico di tutto.