O Pastel

Após um mês sem escrever, estou de volta. Estou no Brasil, mais exatamente na terra da Rainha de Copas, como expectadora e participante de fatos e momentos bizarros. Ontem aconteceu um desses momentos.
Estava voltando de uma sessão se cinema no meio da tarde com a minha mãe. Nós duas, enlevadas conversando sobre o filme lindo que tínhamos acabado de assistir, graças ao festival Varilux de cinema frances. Paramos para atravessar a rua em uma das avenidas principais da cidade, quando percebemos um tipo magrelo, vestido com o uniforme basico dos moradores da cidade: bermuda e camiseta. Ele não aparentava ser um  mendigo, mas estava pedindo algo para as pessoas a nossa volta que esperavam o sinal fechar.
Uma mulher se esquiva dele e ele se vira para nós…
– Boa noite. Olha , eu tenho aqui um pastel. – E mostra um pacotinho pardo com uma manchinha de óleo típica embalagem de pastel.Vendo eu e minha mão com a maior cara de interrogação ele continua:
– A mulher alí me comprou um pastel. Vc pode me comprar um caldo de cana para acompanhar?
Minha mãe, ainda responde educadamente que não tem dinheiro. Eu, depois de 1 minuto falei – Como é que é??
– Olha, eu não quero seu dinheiro, vc pode ir até lá comprar. Logo alí olha, é pra acompanhar o pastel.
Queria me transformar em um cara aquela hora , pra dizer o que ele merecia ouvir. A primeira seria:

1- Meu, sai andando antes que eu te de um murro nessa tua cara e pise na merda desse teu pastel.
A segunda:
2. Eu te ouví bem? Vai pra puta que te pariu! ( seguida de uma bica na bunda dele e o pastel vora pela avenida)

Deus me fez mulher por algum motivo que foge a minha compreensão.
Chegando em casa, ao invés de comentar o filme magnifico, começamos a contar do doido do pastel. Meu pai diz que é a nova onda. Pedinte agora pede refrigerante e outros supérfluos.

Whatta fuck

Sob o sol da Toscana de novo

Luz dourada, queijo pecorino, casas de pedra e cheiro de lar. To na Itália.
Um lugar como outro qualquer, com problemas e pessoas felizes, tristes como outro qualquer.

Com a diferença da busca de beleza que cada um já nasce, senso de estética, e respeito e amor pela comida. Ouvir uma criança explicar como se faz o azeite, ou quando é a época de determinada fruta, a diferença de todos os pães festivos e o modo de fazê-los, faz do italiano ter seu lugar no planeta de um jeito diferente.  

Na tua b não, no teu r

Dia de sol com um ventinho frio, adorável para andar pelas ruas fazendo coisas chatas como ir ao Banco e na loja da Claro -nesta última pode -se morrer e nascer de novo de tanto que demora.
Fui com a minha irmã primeiro ao Banco, cartório e depois com a minha mãe na loja da Claro.

No cartório, nós estávamos bastante entediadas.  Se eu tivesse que ir trabalhar todos os dias em um cartório tinha que ser na base de valium de tanto tédio.
Na mesa ao lado, duas velhinhas e um tipo parecendo um advogado chega. Ele cumprimenta educadamente as velhinhas , é uma figura realmente triste, aparenta uns 46 anos, gordo inchado, óculos e senta na cadeira do meio entre as velhinhas. O modo como ele movia a boca para falar, simulando um assobio lateral me fez pensar que eu já vi isso antes . A boca dele se movia como um periquito com AVC. –

-Meuuuu! Eu conheço o advogado periquito com AVC! Dea, Dea, conheço esse cara!

As duas com pouca discrição esticavam os pescoços para enxergar melhor a cara daquele senhor. Aquele cara era um colega da minha classe do colegial. Uma pessoa arrogante, que não era feio nem lindo, tinha o olho claro, loirinho,  e  o seu  hobby era beijar/ficar com  as meninas  – pedir em namoro e depois dar um pé na bunda delas, ignorando-as e continuando na mesma classe  deixando-as muito tristes, sem chão. Ainda hoje, lembro da carinha da Elaine super desiludida. Naquela época eram poucas as meninas de 13 anos que já estavam dando a bundinha como agora. O inicio de ficar/namorar era entorno dos 15 – 17 anos.

Ele se achava um Deus, semi Deus – eu nutria um desprezo por ele pela sua canalhice – e lá estava, a lei do carma. Esse senhor de 46 anos, na verdade tem a minha idade – 36 . E nesse momento ele já começava a nos olhar de soslaio pela nossa já mencionada indiscrição.

– Déa, ele tá acabado, na merda, caracoo!

O escrivão a nossa frente, começou a olhar também, queria ver quem era aquela pessoa.

Acabamos nosso negócio, levantamos e saímos, sem olhar para trás.  Ahhh lei do carmaaaa…..

Fragmentos da minha Páscoa

-Filha, vem almoçar aqui, traz um peixinho porque o que tem aqui é pouco.
Assim começa a sexta feira Santa. Um calor infernal em um dia santo, lá vamos nós na Ponta da Praia. Chegando nos boxes de peixes, nunca ví tão lotado em toda  minha vida. O gelo derretido dos isopores de peixes caindo na calçada, pessoas se abarrotando e o calor, o calor…
Eu usando havainaas e torcendo pra ninguém pisar no meu pé e deixar uma pegada de caldo de peixe nojento no peito do meu pé.
Missão cumprida, corro para a casa dos meus pais. Logo percebí que seria eu que ia tocar o almoço de Páscoa. Como amo cozinhar,  foi um prazer! Começo fazendo o pesto para o macarrão e o linguado ao forno. Faltou gengibre pra deixar  o molho do linguado bem thai, mas tudo bem. Me viro com leite de coco, limão e muito curry. Parto para o camarão, lavo um por um de novo e ligo a frigideira bem quente, e jogo os camarões médios para tirar a água deles sem ficarem borrachudos. Batata cozida, descasco e faço souté e jogo muita salsinha picadinha.
Minha irmã chega e inicia a milanesa dos filézinhos de pescada. Enquanto frito, o macarrão fica pronto. Em uma frigideira gigante jogo o macarrão em cima dos camarões com o creme de pesto. O macarrão fica verde lindo, cheiro de manjericão. Almoço pronto, lambrusco gelado na mesa e familia sentada. Que delicia poder cozinhar pra quem a gente ama…

Você é G

Momento depre do dia: a vendedora de calcinhas que comprimem a barriga e a bunda ( isso já era suficiente humilhante) estava procurando meu tamanho ideal. Passando o dedo sobre um gráfico em que o peso e altura convergem em um mesmo ponto, ela procura o tamanho ideal da minha calcinha super compressora de panca e bunda, me diz: você é G.
Quando que eu virei G e não percebi? Como a gente se engana, faz tempo que sei que sou G. No dia que comprei aquele shorts curto jeans que ficou lindo, mas era 42, nas minhas idas a praia em que tenho que encher minha coxa de talco antes pra não ficar assada. Onde mais, me deixa ver… Quando a minha avo de 91 anos me fala muito docemente e no final da sentença mostra a preocupação : – Filhinha, vc não vai fazer academia? – Por que vozinha? To gorda?
Ai filha, é que vc sempre foi tão magrinha…
Mas o aviso do momento G foi quando o meu jeans mais largo começou apertar na cintura ate finalmente não passar na coxa.
Eu gosto do meu corpo. Diferente de muitas mulheres mega complexadas, eu gosto dele sim. Mesmo assim gordinha eu me acho gata.  Tenho uma lordose acentuada que faz minha bunda sempre parecer arrebitada, e agora que ela ta grandona dependendo da roupa favorece muito ou acaba com a minha vida. Meu peito depois de gorda ficou lindo, grande , redondo… e meu namorado ama, diz que são perfeitos ; e olha para eles como se fosse uma obra de arte ( acho que deve ser uma expressão parecida como eu olhei os Boticcelli no Uffizzi ).
Eu prefiro dizer que pareço uma versão da Sofia Loren mais baixa porque nunca uso salto. Atualmente eu comparo o meu corpo aquelas matronas sexy do cinema italiano: ancas largas, cintura… Elas andavam com aquela bundona e peitao com agilidade ! Esticavam a massa com os braços gordos e grandes porem fortes e enérgicos! Faziam escândalo na rua e pegavam os filhos nos braços ( um em cada!); igual eu faço com meus gatos!
E verdade, e falo de coração. Depois de muito lutar com a balança, tomar anfetaminas, me sinto ótima na minha pele. So queria ficar mais forte, mais pump, isso sim.  

Pensar , pensar

Me sinto como uma corda retesada, puxada ao extremo, sem flexibilidade.
Penso que deveria mudar muito a minha vida, mas não mudar completamente – o que é uma contradição.

Mês que vem, vou fazer uma viagem pra longe, para o lugar que eu mais gosto e com as pessoas que mais amo… Que mega expectativa é essa!

Queria viver viajando, me encantando… Porque ultimamente me sinto desencantada.

Cidade LUnaticaniversitária

Saindo da cidade de Copas e chegando na dos estudantes, um trajeto que faço pelo menos uma vez na semana.
Chego na portaria para identificação e o porteiro dentro da guarita com um telefone pendurado no ombro direito me pergunta:
– Moça, o que é distúrbio bipolar?
– Bom, acho que é quando a pessoa passa da normalidade rapidamente para a irritação, tristeza , algo assim.
– Ahh…
Daí, ele responde exatamente o que falei para a pessoa do outro lado da linha. Pergunto para ele:
– Mas porque vc está me perguntando isso?
Ele desliga o telefone e me diz:
– Minha amiga aqui , que trabalha comigo, ta chateada porque falaram que ela tem isso e ela não sabe o que é.
– E porque vc achou que eu sabia? Tenho cara de quem tem? ( agora definitivamente ele vai pensar que é o dia de encontrar loucas dele)
– Não moça, de maneira nenhuma! É que vcs que mexem  com vírus , bactérias devem saber dessas coisas tambem né?
– É…

O stress

Faz tempo que eu acho que ando estressada. A dificuldade de emagrecer foi o que mais me chamou atenção. Trabalho, trabalho e é tão dificil acumular  dinheiro, na verdade economizar e guardar para obter uma vida sossegada em um futuro sonhado.

Mais complicado é, quando vc se sente sozinha nessa empreitada. Não sente que tem uma retaguarda.

A vida prega tanta peça na gente, pegadinhas e mais pegadinhas.

E a ironia é o que mais pega. Vejo, dia após dia as ironias acontecendo.  Porque será que eu to vivendo a minha de uma forma tão agoniante? Será resolução cármica nessa mesma vida?

Queria poder entender melhor.

O final de semana

Este final de semana foi muito gostoso. Comecei fazendo minha nova atividade adorada que é Yoga (outro dia escreverei um post sobre essa prática desafiante e maravilhosa para a alma), depois sessão de filmes europeus e a noite sanduíche gordo com familiares agradabilíssimos.
No domingo, festa surpresa para a minha cunhadinha, churrasco, cerveja e a noite:  a óbvia intoxicação.

Fico com vergonha de falar que eu como carne vermelha. Carne de bicho, sangue, carne vermelha. Isso não tem nada a ver comigo e com a minha ideologia de vida e a posição que os animais tem no meu coração e na minha vida. Mas no domingo,  eu comí.

Chegando em casa , depois do centésimo gol do Rogério Ceni, tomei um banchá autentico japones, que ganhei da doce japonesa que tem um restaurante embaixo da casa onde  minha irma morava  em Kitakyushu. O alivio foi imediato, e achei que estava salva. Ledo engano – foi deitar na cama,  cochilar, e depois de algumas horas acordar para dormir um sono agitado e entrecortado.
Meu cachorro enorme decidiu dormir nos meus pés, dificultando ainda mais a minha acomodação  e prejudicando o sono que não vinha…

Vira para um lado, para outro, e nada… Quando fui espiar o relógio do telefone, faltava meia hora para acordar – esse é um dos  momentos mais irritantes que existem.

O castigo de comer a carne de bichinhos veio a galope, mostrando que o organismo realmente está rejeitando essa energia. Quem falar que foi a cerveja dou um soco!